Quando Perrie Edwards fez sua audição no X Factor em 2011, aos 17 anos de idade, com o cabelo loiro parecendo um ninho, enquanto mordia os lábios, ansiosa com o barulho da multidão e se preparava para cantar “You Oughta Know” da Alanis Morissete, ela não imaginava o que estava por vir.
Nem Jade Thirlwall, que cantou The Beatles ou Leigh-Anne Pinnock com Rihanna ou Jesy Nelson enquanto cantava “Bust Your Windows”. Em algumas semanas, as adolescentes seriam colocadas juntas: no começo, confusas e relutantes, depois fortemente determinadas enquanto treinavam e ensaiavam a caminho de conquistarem o título de primeira banda a ganhar a competição.
Nós fomos jogadas nisso. Amamos a nossa experiência e pudemos viver nossos sonhos, mas foi difícil.
Edwards diz, agora com 27 anos.
Nove anos depois, essas mulheres têm lutado pelo controle. Em “Little Mix: The Search”, elas embarcam em sua própria caçada por uma banda que possa acompanhá-las em turnê.
Eu não quero que as pessoas sintam que são máquinas e devem ser sempre de uma mesma forma. Era assim que nos sentíamos – como se não fôssemos humanas.
Estamos espremidos em um trailer nos fundos de um estúdio de produção em Essex, onde o quarteto passou as últimas semanas gravando a fase de audições e se preparando para a etapa ao vivo que, naturalmente, foi adiada. É fevereiro e elas estão amontoadas, lantejoulas brilhando debaixo dos casos, a única pista de que elas são estrelas do pop, o que elas realmente são, é a chave do sucesso: além da inteligência, músicas contagiantes e harmonia perfeita, o reinado dessa banda com milhões de discos vendidos, bilhões de streamings, Brit Awards, têm durado tanto tempo justamente por conta delas serem trabalhadoras, abertas, astutas, engraçadas e normais.
Elas têm sido protegidas fielmente por seus fãs, tanto ao longo da competição quanto agora, não por terem o estilo Spice Girls de “escolha a sua favorita”, mas sim porque elas podem ter começado como solistas, mas estar em uma banda era a única chance dessas garotas, então elas se conectaram rapidamente e de maneira formidável.
Jade contou:
Todas nós viemos da classe operária e essa oportunidade mudou nossa vida completamente. Nós sabíamos que a melhor saída para enfrentar aquilo, era enfrentarmos juntas. Acho que esse é o principal motivo de ainda estarmos aqui: não deixar ninguém entrar na nossa mente e tentar nos separar ou criar rivalidade. Isso é o que a mídia tem tentado fazer constantemente, mas nós nunca cedemos. Nós nos tornamos mulheres juntas.
O “The Search” é luminoso, doce e quase impossivelmente, positivo: não é exagero enxergá-lo como uma ruptura deliberada do programa do qual elas vieram. Já se foi a época das audições humilhantes ou com uma “história triste”, das quais o público se afastou nos últimos anos. Ao invés disso, as garotas ficam em uma sala com um sofá cor de rosa, de forma alcançável e até fraternal com cada participante. Cada um deles têm acesso a cabelereiro e maquiador, treinos vocais, coreógrafos, tudo para fazê-los se sentirem menos nervosos e mais confortáveis. A prioridade, Edwards diz, é que todo mundo, seja qual for o veredito, tenha um “bom dia”.
Pinnock, 29 anos, acrescentou:
Talvez não devêssemos, mas criamos um vínculo.
Como já estiveram do outro lado, distribuir rejeições é “mentalmente desgastante”, segundo Edwards.
Nós estávamos agindo de modo profissional, mas sabíamos como eles estavam se sentindo emocionalmente.
Perrie insiste que uma boa parte do orçamento foi gasto bom o bem-estar dos participantes. Jesy, 29 anos, afirmou:
Quando os candidatos não passam, não recebem apenas uma ligação – são semanas de cuidados posteriores.
E quando eles passam, são guiados cuidadosamente pelo caminho da indústria da música para garantir o controle artístico. Edwards disse:
Nós não queríamos que eles fossem obrigados a assinarem com nenhum grupo de pessoas ou gravadora ou empresário. Eles talvez queiram tomar suas próprias decisões. Nós nunca tivemos essa oportunidade.
Em 2018, a Little Mix rompeu com a gravadora Syco, de Simon Cowell, em meio a rumores de que a relação tinha ficado azeda. Ele lançou seu próprio programa rival, “X Factor: The Band“, pouco tempo depois que o “The Search” foi anunciado.
Pinnock ri:
Ele queria lançar o dele antes do nosso, não foi? Nós não estávamos preocupadas.
Elas só têm elogios para distribuir sobre sua mentora no “X Factor”, Tulisa Contostavlos – de quem elas continuam próximas e cuja orientação continuam seguindo. No entanto, olhando para trás, Nelson admite:
Nós tínhamos medo de sermos jogadas para fora do programa se disséssemos não para algumas coisas. Nós queríamos agradar as pessoas. Eu queria que tivéssemos recebido mais apoio. Nós não tivemos nenhum.
Desde o começo, a banda deixou claro que nunca quis ser um exemplo, mas tem utilizado sua influência para lutar por causas consideráveis como feminismo, direitos LGBT+ e saúde mental. Mesmo assim, elas lutaram para serem respeitadas. Jade explicou:
Quando você está em uma girl band, você pode não ser considerada bonita o suficiente quando você é bonita o suficiente, você só é vista como uma marionete, apenas uma integrante bonita, então você tem que provar que é talentosa também.
Mas então você começa a tentar provar o porquê é tão confiável quando qualquer artista do sexo masculino. É um ciclo sem fim de ser o azarão. Sim, nós podemos escrever músicas; sim, nós podemos cantar; sim, nós somos mulheres de negócios; sim, nós estamos no controle da nossa marca. Nós estamos constantemente tentando provar para as pessoas, todos os dias, o porquê merecemos nosso sucesso.
Ano passado, Nelson ganhou um prêmio Bafta por seu comentário na BBC, “Odd One Out”, onde ela falou sobre os ataques que a levaram à depressão e tentativa de suicídio. Pinnock está fazendo o seu próprio documentário para o canal a respeito do racismo que ela enfrentou por ser a única negra na banda.
As pessoas amam ver você chegar ao topo nessa indústria e então, assim que você chega lá, elas adoram tentar te derrubar. É uma maneira fodida de se pensar. E geralmente são mulheres.
Nossa conversa aconteceu três dias após a morte de Caroline Flack e a banda está melancólica – elas eram amigas da Caroline, que apresentava o programa “Xtra Factor” no ano em que ganharam. Talvez tenha chegado o ponto em que vamos pensar em como tratamos as pessoas públicas: tributos com “BeKind (seja gentil) inundam as mídias sociais. Mas, Jesy diz:
O público não vê as celebridades como pessoas reais. Isso não pode ser algo que simplesmente acontece e é esquecido.
Eu tenho visto tanta gente fazendo campanha, petições para que o parlamento proíba as pessoas de publicarem histórias que são falsas. Acho que é crucial. É algo com o qual lidamos no começo. Nós líamos tantas coisas sobre nós e nem era verdade, então pensávamos ‘mas que diabos?’. É tão frustrante, porque quando eu não estava nessa indústria, durante uma ida a Tesco ou ao cabelereiro, e eu via uma história sobre alguém, eu acreditava naquilo. Eu não fazia ideia. É tão prejudicial à família daquela pessoa, à saúde mental e não deveria ser permitido.
Edwards acrescentou:
O pior é que você ouve que deve ficar calada. Dizem que você tem que ler aquela informação falsa e não pode esclarecer o fato, então você fica ainda mais frustrada.
Nelson continuou:
Tanta gente está morrendo. Por que nada está sendo feito a respeito disso? Eu queria que pudéssemos voltar para o tempo em que não existia mídias sociais.
As coisas eram mais fáceis naquela época? Thirlwall acredita que sim.
Vamos dizer que as Spice Girls tivessem haters, eles mandariam uma carta de ódio, mas você não era obrigada a ler aquilo. Rasgue a carta! Você podia evitar. Agora, não tem como.
Perrie concorda:
Se as pessoas tivessem que ir até o correio, escrever uma carta de ódio, depois lamber o envelope, colocar um selo, enviar e então sentar e torcer para alguém ler… Isso não ia acontecer, quem tem todo esse tempo?
Isso significaria que a conexão entre artista e fã não seria tão próxima, mas todas concordam com Leigh-Anne:
No momento, a maldição está superando a benção.
Logicamente, elas devem se sentir em conflito com relação a incentivar outros jovens, especialmente meninas, a seguirem seus passos?
Nelson acena positivamente com a cabeça:
Eu tenho meus medos. Não interessa a forma física do participante para mim, mas quando nós o colocamos para enfrentar o mundo exterior, sabendo o que tive que lidar quando estava com essas garotas, eu penso ‘Meu Deus, será que isso vai acontecer com eles? Eu quero que eles passem por isso?’.
Pinnock diz:
Eles são educados a respeito das mídias sociais. Toda pessoas que passa é avisada: você estará na TV, será conhecido e tem uma grande chance das pessoas terem uma opinião sobre você. Nós não fomos avisadas.
O programa deu a chance delas viverem seus sonho, viajarem o mundo e claro, estarem juntas. Mesmo assim, eu deixo essas mulheres – brilhantes, iluminadas e espertas – se questionando se o preço que pagaram valeu a pena. Jade conta:
É uma mentalidade que diz ‘você pediu por isso’. “Você queria ser famosa, então o que esperava?”
Perrie explica:
Eu só queria cantar para as pessoas, fazê-las felizes, fazer o que eu amo, porque cantar me dá um frio na barriga. Eu não estou tipo: ‘Mal posso esperar para escreverem merda sobre mim no Twitter mais tarde!’. Quem iria querer isso? Ninguém!
Fonte: INews
Tradução e Adaptação: Equipe Little Mix Brasil