Após o sucesso de Glory Days, Little Mix relança o álbum, Glory Days: The Platinum Edition, com um exclusivo documentário sobre como é Little Mix por trás das câmeras. Ainda nesse ritmo, Eva Wiseman faz um entrevista com as garotas para a revista The Observer; Little Mix fala sobre como é ser uma girlband em 2017 e os pontos positivos e negativos de estar sob os holofotes.
Confira a matéria completa:
Foi no verão de 2015 que Little Mix estava promovendo uma música nova ao vivo na TV quando chegou a parte da letra “Love isn’t fair”, e Perrie Edwards, recém solteira de seu relacionamento com Zayn Malik, se derramou em lágrimas. Suas colegas de grupo Jade Thirlwall, Leigh-Anne Pinnock e Jesy Nelson a abraçaram protetora e gentilmente.
Pouco tempo depois, Malik começou a sair com uma modelo, todos os movimentos da Perrie eram monitorados como uma evidência de sua dor, desde seu “revenge body” até o porque de seu novo corte de cabelo. Então, um ano depois, a banda lançou um single que foi como um afiado dedo do meio, chamado Shout Out To My Ex. “I hope she’s getting better sex. Hope she ain’t faking it like I did, babe.” O efeito foi de que Perrie tomou algum domínio sobre sua história, fazendo isso se virar sobre solidariedade feminina – o vídeo mostra um viagem no estilo de Thelma and Louise, com a banda se deleitando num deserto roxo.
E foi esse atrevimento e diversão que eu esperava quando conheci Little Mix em um intervalo entre photoshoots, mas o ânimo estava um pouco mais… para baixo. Ainda assim, elas sorriam alegremente, ainda que os sorrisos fossem um pouco vidrados. Agora todas com idade entre 24 e 26 anos, Little Mix tem trabalhado quase constantemente desde 2011, quando se tornaram o primeiro grupo a vencer o X Factor e a maior girlband britânica desde as Spice Girls. E as Spice Girls, suas tias culturais, são constantemente citadas em entrevistas, mesmo depois da Mel C sugerir que elas eram um pouco provocantes demais para sua filha de 4 anos. O que me leva de volta para a descrição feita pela Kathy Acker em 1997.
Elas “representam a voz que foi por muito tempo reprimida”, disse essa punk-poet no ano que morreu. “As vozes das jovens mulheres… não das educadas em aula.” Concluindo, Acker disse que ela eram, basicamente, o futuro do feminismo. Eu não pude evitar olhar em paralelo com Little Mix.
Como é, eu perguntei, como é ter esse trabalho? Elas se entreolharam, e Leigh-Anne se inclinou para frente, resumindo. “Esse ano todas nós compramos casas, em nenhuma de nós dormiu nelas.” Ela se sentou de volta. Jesy continuou. “Porque na industria do pop, é difícil parar. Com a música pop se você sumir por mais de um ano, eles se esquecem de você.” É verdade – se elas não postam nada nas redes sociais por mais de um dia, seus fãs (os #Mixers) se reunirão ruidosamente para verificar se elas estão bem. “As Spice Girls podiam ficar longe dos gritos de seus fãs,” diz Scott Mills da Radio 1. “O que acontece agora com as redes sociais, é que os artistas não têm mais um tempo de folga. Eles têm que estar presente no Instagram e Twitter o tempo todo.” Em um mundo de streaming é difícil para os artistas, especialmente as girlbands, ter algum impacto. Hoje elas são comercializadas como a expressão de amizade feminina. Assim como em Manhattan em Sex and the City, a característica mais importante na Little Mix é (respira fundo) a amizade por si só.
O segredo de sua amizade, diz Jesy, é “saber quando deixar a outra sozinha”. “Também, nenhuma de nós quer ser a líder,” diz Jade. “No entanto, o principal,” adiciona Jesy, “é que nós aprendemos que somos mais fortes juntas.” Perrie deixa sua cabeça cair para o lado. “Mas, mesmo em um grupo, isso pode ser um lugar solitário,” Leigh-Anne adiciona. “Nossas mães vieram na turnê e a minha ficou confusa com isso. Ela continuava dizendo no carro: ‘Você faz isso sozinha? Você não quer estar entre as pessoas? Isso é tão solitário!’ Eu acho que nós estamos acostumadas com isso. É um mundinho divertido.”
Onde está a antiga Little Mix descarada? As que, em uma entrevista com a revista de música Beat, foram perguntadas em como amor cheirava, e com olhos estreitos responderam: “Pênis.” Simon Cowell, que lidera a gravadora delas, me disse o quão divertidas elas podem ser. “Elas vieram para um jantar uma vez, e me mostraram um filme onde garotas fingiam estar em um tribunal. Isso foi hilário! Eu acho que as garotas pensaram o mesmo, porque elas estavam histéricas. Então um delas, acho que era a Jade, cuspiu seu vinho na tela no notebook. E as garotas se entreolharam e continuaram a rir. Isso ficou gravado na minha mente.”
As garotas que eu conheci hoje estão cansadas. Quatro álbuns, isso é tradicionalmente quando as grilbands pensam em dar um pausa na carreira. Mas adiante de sua turnê nacional esgotada, onde elas performaram em uma cidade diferente toda noite e tarde também, shows matinê para fãs mais novos que estão ali desde que Tulisa Contostavlos foi mentora delas no X Factor. “Meu maior conselho,” Tulisa se lembra hoje, “era muito simples: ‘Acredite.’ Todo show ao vivo eu saia do palco segurando as mãos delas murmurando: ‘Acredite, acredite, acredite’ sob minha respiração.” Agora elas são estrelas, e ela está as assistindo lidar com o peso da fama. “Os holofotes tem seus pontos positivos e negativos. As vezes é incrível e outras vezes parece que o mundo está desmoronando. Se trata de ponderar suas opções. O que estou disposto a sacrificar?”
Tem algum outro conselho que Little Mix gostaria de ter recebido? “Quando você é uma estrela do pop não significa que você está livre das coisas,” começa Perrie, se lembrando de um estranho encontro no Topshop. “Muito dinheiro, grandes casas. Isso não quer dizer que todos te amam.” “Nós estamos nos olhos do público 24/7 e não temos espaço pessoal ou privacidade. Obviamente amamos isso agora,” Jesy adiciona rapidamente, “mas costumávamos ser um grupo de ‘garotas sim’ que fariam qualquer coisa.”
“Nós éramos tão vulneráveis,” diz Jade, que no ano passado falou sobre seus problemas na adolescência contra a anorexia. “Nós não tínhamos ideia.” “É especialmente difícil quando você só quer ficar triste,” diz Leigh-Anne. “Se você está se sentindo um lixo e você só quer chorar, então é, isso é… estranho.”
Elas se permitem uma pausa antes entrarem em um devaneio sobre a vida como uma pessoa normal. “Eu amo fazer compras.” “Imagina um tipo de vida normal onde você pode simplesmente… ‘fazer compras’.” “Encher sua geladeira e essas coisas.” Elas suspiram.
Little Mix sente falta de ter uma vida normal? Elas se olham, conversando por olhares. “Não,” diz Jade. “Não, é bom saber que faremos isso por mais alguns anos e depois, no futuro, teremos essa outra parte para vir.” Perrie as lembra: “Esse é o nosso sonho!” E elas aprenderam a lidar com a estranheza.
“Nós fomos jogadas na indústria sem qualquer dica do que estava por vir.” Jesy explica. “Isso foi a pior coisa de todas. Estranhos dizendo coisas sobre você que você nem sabia sobre você mesma. E você se questiona. Mas você sabe o que é estranho? Eu sinto que agora que as pessoas podem ver que não nos importamos mais, isso não acontece mais. Eu acho que vivemos em um mundo muito triste, com as redes sociais, onde as pessoas amam examinar garotas e mulheres. Mas estabelecemos um bom exemplo. Nós aceitamos quem somos, não somos perfeitas e sabemos disso. Mas, eu sei que se tiver filhos, não quero que eles tenha celulares.”
Perrie lamenta: “Oh Deus, crianças passando maquiagem e eu: ‘Você tem 11 anos!’, eu mal sabia o que era maquiagem nessa idade!” “Outro dia eu tirei uma foto minha de biquíni,” diz Jesy, “coisa que nunca tinha feito antes, e pela primeira vez eu não quis retocar ela. Pensei: ‘Não, foda-se isso – essa sou eu, e se você não gosta disso, então problema seu!” Acho que se todos fizéssemos isso, o mundo seria um lugar melhor.”
Seu quarto álbum Glory Days foi relançado esse mês, numa enxurrada de palavras sobre amor e relembrando de “ser você mesma”, uma frase que, para mim, foi tão diluída que praticamente é homeopática. O que isso significa para elas? “No mundo ‘normal’,” diz Jade, “você vai para o colégio, você está se descobrindo e você comete erros e não deveria ser julgado por isso. Assim como nós estávamos sob os holofotes, tentando descobrir quem éramos enquanto todos estavam nos assistindo.”
“Nós acordamos alguns dias e nos sentimos como as pessoas mais atraentes de todas,” diz Perrie. “Mas outros dias nós estaremos tipo: ‘Oh meu Deus, eu sou tão feia.’ Eu acho que ninguém está 100% confortável sob sua própria pele, mas estamos aprendendo a nos amar mais e mais, e é que isso que representamos em nossas músicas.”
É uma mensagem que funciona, com mais de 1 bilhão de streams no YouTube e Spotify, e dinheiro o suficiente para comprar para elas e para suas mães suas próprias casas. Apesar de, é, elas não terem dormido nelas. “Eu voltei para a Europa,” diz Jesy, “e tive que arrumar as coisas para viajar novamente. Eu olhei para todas as minhas malas no chão e comecei a chorar. Estava tipo: ‘Eu não posso fazer isso.’ Literalmente quase tive uma crise tipo, ‘eu preciso de ajuda. Isso é demais. Eu apenas quero ir para casa.'” E elas automaticamente acariciaram sua perna.
A atmosfera estava desnecessariamente pesada, o chá verde esfriando sobre a mesa de café, então mudamos o assunto para os benefícios de ter uma vida assim. “Aconteceu uma coisa realmente estranha outro dia,” dia Jesy. “Eu estava no aeroporto e essa mulher de uns 40 anos saiu de seu carro. Ela começou a chorar e disse: ‘Eu vim para o seu show há uma semana e vocês fizeram eu me sentir mais confiante do que eu já me senti na minha vida toda. Eu posso te abraçar?’ Quero dizer, de certa forma isso me deixou muito triste…” “Mas isso não é estranho?” diz Leigh-Anne, “Nós fomos de: ‘Eu gostaria de poder ser normal,’ a perceber que é por coisas assim que estamos presas em prédios o dia inteiro.” Elas sorriem. Todos nós sorrimos.
Existe um pensamento popular de que as estrelas do pop permanecem na idade em que se tornaram famosos. “Sim, porque você está sendo presa a isso para o resto da sua vida!” diz Perrie. Jesy ri: “Eu sempre me perguntei, quando terei aquela coisa ‘mãe super poderosa’? Quando poderei tocar em coisas quentes?” “Nós somos infantis em diversas maneiras,” diz Jade. Leigh-Anne bufa, lembrando: “Nós estávamos fazendo um show na Espanha e mais uma vez teve quatro quartos de hotéis inutilizados. Nós sempre dividimos uma cama. Então estávamos todas em uma cama juntas e todas nós ficamos sem ar. E pensamos que seria divertido postar isso no Instagram. Barulhos de peido.”
Aí está, a idiotice que eu tinha prometido. Elas explodiram em gargalhadas. “Isso é tão não girlband!” diz Perrie. “Tipo: ‘Whoooo venham me pegar garotos, brrpppp!'” “Nós excluímos isso?” Jesy pergunta. “Excluímos?” Não, elas não excluíram.
E enquanto outras bandas de pop podem ter sentido apenas desgosto pela pressão, para Little Mix são coisas assim que cimentam sua “marca” na cultura britânica. Um pouco atrevidas, apesar de sua beleza, um grupo de amigas verdadeiras, amigas para quem o empoderamento é uma foto de biquíni, amigas que peidam. Kathy Acker viu Spice Girls como a nova voz do feminismo; talvez Little Mix seja a voz do novo feminismo, onde irmandade está ao lado de piedade, e Instagram é o campo de batalha para um debate para a imagem do corpo.
Cowell se orgulha de sua ética no trabalho, sua química, mas principalmente sua ambição. “Elas são muito, muito talentosas. E ambiciosas. Muito ambiciosas. Muito, muito ambiciosas!” “Tudo que eu quero,” pensa Jade,”é ser a girlband da nossa geração.”
Olhando para elas hoje, eu acho que esses seis anos de escândalo montado, relacionamentos escolhidos pelo Mail para pistas de teorias de conspiração, de sua gestão de rede social, tudo isso junto com o forçado glamour da amizade, ou “girl power”, as rígidas turnês. E uma coisa é clara: estar na maior girlband do mundo em 2017, é um trabalho duro.